Quem é que nunca deixou ou conhece alguém que deixou de treinar, quer seja por motivos de trabalho, estudos ou de saúde/lesão e, quando essa mesma pessoa volta aos treinos com uma alimentação correta, o ganho de massa de muscular é grande?
Estes ganhos de massa muscular repentinos podem gerar alguma desconfiança pelos colegas e o resto do staff do ginásio.
Antes de avançarmos para o mecanismo fisiológico que leva a estes ganhos de massa muscular abruptos em pouco tempo, vamos ter que perceber um pouco como ocorre a hipertrofia para depois podermos compreender o resto.
Quase todas as células têm núcleos, sendo estes os responsáveis pelo controlo das reações químicas através da transcrição e tradução da informação contida no DNA em proteínas.
No caso do músculo esquelético, estas fibras são multinucleadas mas, à medida que o músculo aumenta (hipertrofia), o número de mionúcleos aumenta de forma a manter o domínio mionuclear constante, garantindo assim a continuidade da hipertrofia até certo ponto.
Como se pode ver pela imagem ilustrada abaixo, aquando de um estímulo de hipertrofia (treino de alta intensidade conjugado com uma alimentação correta), o domínio mionuclear aumenta, o que leva a uma ativação das células satélites, que posteriormente se proliferam, diferenciando-se e fundindo-se com a fibra muscular.
Com um maior número de mionúcleos, o domínio mionuclear fica mais pequeno (como visto na transição da segunda para a terceira representação), permitindo assim que o músculo hipertrofie outra vez.
Sports nutrition & performance enhancing supplements, 2013.
Uma grande parte da literatura mais antiga tem sugerido que a atrofia induzida por suspensão dos membros conduz a uma perda de mionúcleos excessiva por apoptose, e que o mecanismo da reaquisição da massa muscular após períodos de inatividade seja atribuído à aprendizagem motora.
Mais tarde, foi demonstrado que a atrofia induzida pela suspensão dos membros inferiores não conduzia à perda de mionúcleos, apesar de um forte aumento na atividade apoptótica de outros tipos de núcleos dentro do tecido muscular.
Quando reposto o estímulo nos membros, ocorria hipertrofia do músculo sem o aumento do número de mionúcleos até chagar ao estado anterior.
Até ao momento há trabalhos que demonstram que os mionúcleos permanecem durante alguns meses após cessar o treino, apesar de, por conhecimento empírico, estas alterações fisiológicas deverem permanecer, pelo menos, alguns anos.
Exemplo de caso:
Talvez o caso mais conhecido seja mesmo o do mediático Kevin Levrone, um dos melhores culturistas de sempre que, no início da década passada, se ausentou dos treinos por mais de meia década.
Apesar de o corpo dele ter chegado a um ponto de se parecer com o de um sedentário, os ganhos de massa muscular foram assustadores para o período de tempo decorrido quando regressou aos treinos no final da década anterior.
A sua preparação para o Mr. Olympia deste ano foi impressionante para o tempo em questão. Outro caso, se calhar não muito conhecido, é o do ator que fez o papel do super-herói na trilogia do Batman.
O caso de Christian Bale para o Batman:
Christian Bale é conhecido pelas suas transformações corporais para dar vida a uma série de personagens, com perdas e ganhos de massa muscular acentuadas.
Outros nomes de peso no bodybuilding onde se viu este efeito foi com o Víctor Martínez e Hidetada Yamagishi.
O uso de esteróides, mesmo que temporariamente, também leva a um aumento dos mionúcleos, o que poderá levar a que esta exposição momentânea seja sempre “lembrada” pelos músculos, já que a retirada da sua exposição não leva a uma diminuição deste mionúcleos.
Devido ao avançar da idade, a capacidade de produzir mionúcleos estará diminuída. Isto leva a crer que os indivíduos podem obter um efeito benéfico se começarem o treino de força cedo.
Por isso, caso um dia aconteça algum imprevisto que te deixe fora de “combate”, não te preocupes que em poucas semanas voltas a recuperar tudo – isso aliado a um bom treino e a uma boa dieta, claro.
O músculo nunca se esquece da glória do passado!