Colocámos a questão à Irish dancer profissional e PT Myprotein Nerissa Shea: o yoga é eficaz como forma de exercício, ou trata-se de uma perda de tempo?
O yoga tem-se tornado cada vez mais popular no espaço do fitness e bem-estar nos últimos anos. Comecei a minha aventura há 10 anos atrás, quando estava na universidade a estudar artes performativas. Para dizer a verdade, creio que não era realmente apaixonada pela prática na altura, uma vez que preferia formas de exercício mais dinâmicas – costumava adormecer sempre que ficávamos na pose final de repouso, no que toda a gente reparava por causa do meu ressonar audível. Desculpa, Claire (a minha fantástica instrutora de yoga)!
Depois de terminar o curso, trabalhei como Irish dancer professional por mais de 10 anos. Quando o Covid começou, estava numa tour pela Alemanha e, infelizmente, lesionei-me. Quando voltei para casa, na Irlanda, tinha de usar muletas e não pude dançar ou treinar por seis semanas. Foi por essa altura que comecei a interessar-me realmente pelo yoga.
Antes disso, a minha prática de yoga tinha sido sempre esporádica, mas pela primeira vez na minha vida senti um desejo real de me comprometer a praticar regularmente, assim que pude pôr-me de novo em pé.
Comecei a praticar regularmente em Março de 2020 e isso mudou a minha vida. O yoga faz parte de quem eu sou agora, e sentir-me-ia perdida sem ele. Embora por vezes não note uma diferença enorme no dia a dia quando estou a praticar, os transtornos da vida quotidiana começam a afetar-me imenso se falhar alguns dias.
Os benefícios do yoga para a meditação permitiram-me compreender e conectar-me com partes de mim que estavam escondidas há anos. Permitiu-me ser a pessoa que sinto que devo ser, e isso também faz com que ajude mais pessoas na minha vida – familiares, amigos e colegas.
E o que é o yoga?
Quando se fala em yoga, algumas pessoas pensam imediatamente em influencers do Instagram a exibirem-se com inversões vistosas, como o pino de cabeça, o pino de braços e os equilíbrios nos braços. Eu costumava ser uma dessas pessoas. Mas esta é uma perceção ocidentalizada do yoga, que por vezes se aproxima mais de alongamentos em concentração. O yoga é uma disciplina antiga que é praticada há mais de 5000 anos, e uma de seis filosofias antigas que têm origem na India.
A palavra “yoga” em si mesma deriva da palavra em Sâncrito “yuj”, que significa “juntar” ou “unir”, remanescente da ênfase do yoga na união entre a consciência individual e a consciência universal, o ego e a alma, o corpo e a mente.
Nos escritos de Patanjali, que se acredita ter vivido há mais de 2000 anos atrás, e que é por vezes considerado o “pai do yoga”, a prática é descrita como o processo de controlar as modificações da mente. Inevitavelmente, esta perspetiva tem poucas semelhanças com o que encontramos normalmente nas redes sociais.
Umas das formas mais comuns de yoga praticada no ocidente atualmente é baseada no hatha yoga, que coloca grande ênfase na postura e nas técnicas de respiração.
Esta forma de yoga envolve:
- Asana (posturas físicas): Tradicionalmente a postura sentada (o termo vem da palavra em Sânscrito para “sentar”), esta componente refere-se agora a qualquer das posturas usadas no yoga moderno, como o Cão Descendente, a Postura do Guerreiro ou a Postura do Triângulo.
- Ujjayi (técnica de respiração): Uma técnica que nos permite acalmar a mente através do foco na respiração. Isto ajuda-nos a superar pensamentos que nos distraem do estado meditativo. Também cria um som que nos ajuda a sincronizar os movimentos com a respiração.
- Drishti (olhar concentrado): Esta é uma forma de desenvolver a concentração e é essencial para o equilíbrio nas posições. Quando os olhos se movem, a mente e a atenção seguem-nos, pelo que esta técnica nos permite manter o foco.
- Bandhas (concentrações de energia): Esta componente envolve a sincronização da respiração profunda e rítmica com o movimento.
Muitas das diversas formas de yoga encontradas nos ginásios hoje em dia usam todas ou uma combinação destas técnicas: o power yoga, vinyasa, yin, ashtanga vinyasa, restaurativo, até o goat yoga. E a lista não tem fim…
Portanto, não se trata apenas de fazer o pino!
Decidi que queria aprender mais sobre a filosofia do yoga e a sua história – de onde veio, como evoluiu e o que é hoje em dia – assim como sobre a sua componente física. Também estava com vontade de o experimentar a um nível espiritual, pelo que, em Janeiro de 2022, viajei até ao Bali para um retiro de formação de instrutores de 200 horas.
As 200 horas foram divididas por três semanas, com seis dias de treino e um dia de repouso por semana. Foi intenso.
Cada dia foi um pouco diferente, mas o horário era tipicamente algo como isto:
- 6:00-6:45: Pranayama (prática de respiração)
- 7:00-8:45: asana (prática física: vinyasa flow ou ashtanga vinyasa)
- 9:00-10:15: pequeno-almoço
- 10:15-13:00: teoria — filosofia do yoga, história do yoga, anatomia, chakras, ayurveda
- 13:00-14:30: almoço
- 14:30-15:15: yoga nidra (sono yogi)
- 15:30-18:00: uma mistura de práticas asana vespertinas, aulas sobre pedagogia, aulas de alinhamento e workshops
- 18:00-18:30: meditação vespertina
Houve também muitos workshops durante todo o tempo, com temas como o poder da mente, a terapia do som e respiração consciente.
Passámos aproximadamente quatro horas por dia a praticar as posturas físicas – houve cães descendentes em abundância.
Infelizmente, sofri uma lesão a cerca de dois terços do curso. Por isso, tive de terminar o curso com apenas um braço a funcionar devidamente, embora isso acabasse por se revelar uma bênção disfarçada. Foquei-me muito no ensino através das explicações em vez das demonstrações práticas, o que me ajudou a desenvolver a minha perceção do modo como os corpos das pessoas se movimentam.
E agora, quanto à revista…
Esse foi o maior período de tempo que já passei sem fazer alguma forma de treino com pesos no ginásio. Por um mês, o yoga foi a minha única forma de exercício. Nem consigo acreditar na diferença que fez na minha composição corporal – os meus braços e costas ficaram com um aspeto bem elegante.
Vale a pena mencionar que segui também uma alimentação vegetariana. Cortar na carne e o nível aumentado de atividade física pôs-me muito provavelmente em défice calórico, mas ainda assim, fiquei agradavelmente surpreendida pelo tónus muscular e definição nas minhas costas e braços.
A minha força física em relação às diversas posições aumentou imensamente. Estou a praticar de forma semelhante a antes, mas a achar tudo muito mais fácil – mesmo nos cursos intensos de power yoga que faço online. Por isso, a força e a definição musculares aumentaram ambas.
Também a minha flexibilidade e fitness cardiovascular melhoraram muitíssimo. Tive sempre os isquiotibiais muito presos – de todos os anos como dançarina – e em apenas um mês o meu paschimottanasana (alongamento para a frente em posição sentada) melhorou de um modo incrível.
No início do curso, era uma luta até para dobrar os joelhos. Agora consigo agarrar nos dedos dos pés e quase beijar os joelhos. E o meu fitness cardiovascular também melhorou – demoro mais tempo até perder o fôlego quando subo escadas.
No geral, sinto-me mais forte, mais elegante, mais flexível e, o mais importante de tudo, mentalmente sinto-me incrível.
A quem se destina?
A toda a gente. O yoga é para todos.
É uma questão de descobrir uma aula e um instrutor de que gostes. Algumas pessoas adoram flows vinyasa energéticos, enquanto outras preferem aulas de estilo yin, em que nos deixamos ficar em posição durante algum tempo e deixamos a gravidade fazer o resto.
Há realmente uma aula para toda a gente, e mesmo com a minha paixão por um vinyasa flow bem potente, por vezes gosto de uma aula restaurativa - especialmente em alturas do mês em que os meus níveis de energia estão em baixo.
Porque recomendo o yoga a toda a gente? Porque tem tantos benefícios. Entre eles conta-se uma postura melhor, mais flexibilidade, melhor equilíbrio, músculos mais fortes e relaxamento.
Mensagem final
O meu benefício favorito do yoga é como me permitiu ficar em sintonia com o meu próprio corpo e mente, o que melhorou imenso a minha qualidade de vida.
A minha recomendação sincera para qualquer pessoa que já tenha experimentado uma aula de yoga e pensado “não, isto não é para mim” é que persista e experimente algumas aulas diferentes ou instrutores até descobrir do que gosta. Posso prometer que vale a pena – não apenas fisicamente, como mentalmente.
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