O mês da saúde mental já chegou, e quisemos celebrar o impacto que o fitness pode ter no nosso bem-estar. A melhor maneira de fazer isso é dando atenção às histórias reais de pessoas que lutaram contra problemas de saúde mental e conseguiram superá-los. Esta é a história de Tom Armstrong.
Tom cresceu com o râguebi. Nascido em Liverpool mas tendo-se mudado para St. Helens, uma cidade muito devotada a este desporto, quando tinha 5 anos, Tom foi encorajado desde logo a começar a praticar o râguebi e gostou imediatamente da modalidade. De jogar como criança, passou depois a jogar nas ligas universitárias, tendo-se eventualmente tornado profissional. Por isso, quando passou do dia para a noite de ter uma carreira promissora a uma que tinha sido destruída por uma lesão, a sua saúde mental foi compreensivelmente afetada.
Para além dos desafios que enfrentava, a sua mulher foi diagnosticada com cancro pela mesma altura da lesão e o seu primeiro filho, Atlas, nasceu. O abuso de álcool e das drogas tornou-se o seu meio disfuncional de lidar com a situação. Não sabia o que fazer a seguir.
Depois de atingir o que descreve como o “fim da linha”, Tom dedicou-se a estratégias saudáveis, como a meditação, e descobriu o poder que o fitness pode ter na saúde mental. Agora, Tom correu uma ultramaratona, um triatlo, construiu o seu próprio negócio do nada e mudou-se recentemente para uma nova casa com a mulher e filho.
Foi assim que chegou onde está:
A lesão
Os desportistas sofrem frequentemente lesões; está na natureza da sua função. Mas “fim de carreira” são palavras que todos os atletas têm pavor de ouvir.
Aos 28 anos, Tom sofreu uma lesão na anca devido a cabeças femorais de forma geneticamente irregular, que lhe causavam dores. Para voltar mais depressa ao campo, foi encorajado a operar a anca, explicando “Fui para a mesa de operações a pensar que tudo ia correr bem, mas na verdade só temos uma probabilidade de 10 a 20% de recuperação.” Doze semanas mais tarde Tom sentiu que algo não estava bem com a sua anca e diz que “soube que era o fim da estrada”. Nove meses mais tarde, Tom foi forçado a retirar-se precocemente do râguebi profissional.
A parte mais devastadora foi saber que a sua lesão podia ter sido tratada com fisioterapia, foi a operação feita com a intenção de que voltasse mais cedo aos campos que destruiu as suas hipóteses.
“O que posso fazer agora?”
Depois da vida lhe ter trocado as voltas, Tom foi obrigado a questionar-se “o que posso fazer agora?”. Com pouca experiência de trabalho, as suas opções eram limitadas. Tudo isto enquanto cuidava de um recém-nascido e da sua mulher.
Depois, 2020 trouxe a pandemia. Tom não se qualificava para subsídio durante a pandemia, uma vez que tinha investido há pouco tempo no seu próprio ginásio, o que o tinha tornado o diretor de uma empresa. No entanto, a relação com o parceiro de negócios terminou abruptamente, deixando-o sem ajuda do governo durante a pandemia, sem trabalho e debaixo de incrível stress emocional.
“Apenas sobreviver”
“Portanto, a minha mulher estava doente, eu não tinha qualquer ajuda do governo, e só pensava – que faço eu agora?”. Tom também vive com ADHD adulta, uma condição que é tratada com anfetaminas prescritas, das quais começou a abusar como um meio de escapar ao seu dia a dia. Ele explica que “passei de uma pastilha por dia a duas por dia, três por dia”. Usava a sua medicação para a ADHD para o acordar e o manter a funcionar durante todo o dia, e os medicamentos que lhe tinham ficado da operação à anca para adormecer.
O momento em que “bateu no fundo” fê-lo perceber algo avassalador.
"Levantei-me por volta das 3 da manhã com o bebé, depois ia ao frigorífico buscar uma lata. Foi aí que pensei – isto tem de parar”.
“Isto não é a minha vida, eu não devia estar a fazer isto”
Depois de viver assim durante meses, momentos como este com o filho trouxeram-no de volta à realidade e Tom começou a fazer mudanças. Deixou por completo as pastilhas que estava a tomar, e manteve-se sóbrio.
Depois de ter experimentado a meditação em diversas fases da sua carreira como profissional, comprometeu-se finalmente com ela durante a recuperação. Lembra-se que “quando estava num momento realmente crítico, ainda de pé às 4 da manhã por causa das anfetaminas, meditava durante uma hora ou uma hora e meia, em vez de acabar por ir à loja beber”. Diz que se recorda de pensar “vou sentar-me aqui e tentar acalmar as vozes, e consegui, e quando isso começou pensei: isto está a funcionar”.
A meditação é agora uma parte essencial da sua rotina. Acorda e usa terapia de luz vermelha durante as suas meditações matinais, usando quatro meditações fundamentais: “Uso métodos de respiração, como contar até 10 e depois de 10 para baixo, respiração quadrada, visualização do dia, da semana, ou do mês, e gratidão: pensar em coisas pelas quais quero estar grato.”
A meditação tem sido uma experiência tão transformadora para Tom, que ele considera que seria uma adição revolucionária ao treino de râguebi, assim como de outros desportos; “se fosse uma parte do dia de repouso, creio que muitas dessas ansiedades e tensões seriam aliviados”.
Redescobrir o fitness
Depois de uma operação à anca que o deixa fora do desporto profissional para o resto da vida, não seria de esperar que alguém se aventurasse numa corrida de 10 km, menos ainda um triatlo, e certamente não uma ultramaratona. Mas é justamente isso que Tom fez.
"Os médicos disseram que por volta dos 40 precisaria de substituir a anca e eu pensei: não, não vou deixar que seja esse o meu destino”, explica.
Em vez disso, quando um amigo, corredor experiente de ultramaratona, o convidou a juntar-se a ele no próximo evento, Tom respondeu: “ok, vamos a isto”.
Descreve a ultramaratona do mesmo modo que descreve uma corrida leve depois de alguns meses de paragem; “não foi assim tão mau”. Tinha aceitado os desafios mentais; já tinha experiência com desafios desse tipo. Descreve o desafio físico da maratona como não muito difícil, embora acrescente que “cheguei ao último quarto da distância e a minha anca simplesmente cedeu”, completamente impassível.
O benefício de concretizar estes desafios foi para ele não o evento principal, mas a preparação para o mesmo. “Tendo a pôr-me em situações em que tenho de fazer as coisas para não passar por embaraços, de outro modo procrastino, procrastino, procrastino.”
Ele tem de comer de forma saudável, tem de fazer alongamentos e treinar no duro, ou, nas suas palavras, vai parecer “um idiota chapado”. Ter um desafio como este à vista é a forma de manter a motivação para viver melhor e evitar ver-se encurralado num “abismo”.
“Fala com alguém”
Apesar da sua capacidade de sair de um lugar sombrio, deixa claro que, para muitas pessoas, essa não é uma opção.
“Penso que a coisa principal é falar com alguém, encontrar um sistema de apoio. Descobri que fui sempre bom a sair dos buracos em que me metia, mas a auto-ajuda não funciona para todos”. Encontra uma pessoa amiga ou familiar em que possas confiar e fala-lhe do problema.
Tom saiu do ciclo vicioso em que se encontrava, estabeleceu novos objetivos para si mesmo (e atingiu-os) e agora tem a sua própria empresa de treino – que trata a saúde e o bem-estar de um modo holístico.
“Agora ajudo homens e mulheres, atletas, profissionais, pessoas mal diagnosticadas e pessoas fartas de sentir dores e da restrição de movimentos, a recuperarem as suas vidas.”
Tom encoraja os seus clientes a estabelecer metas para si próprios como parte do programa de treino.
“Concentro-me em recuperar os movimentos melhorando a forma física e a composição corporal, dando aos meus clientes um objetivo a cumprir no fim, como um triatlo, uma maratona, ou mesmo apenas 5 quilómetros.”
Mensagem final
Os desafios mentais vêm em diferentes formas para toda a gente, e o tratamento não é sempre o mesmo. Tom descobriu o equilíbrio através da meditação e do retorno ao exercício físico; embora a estratégia possa variar de pessoa para pessoa, fortalecer o corpo muito frequentemente fortalece a mente. Mas quem tem preocupações com a sua saúde mental deve falar com alguém em quem confie e procurar o conselho médico.
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